segunda-feira, 12 de março de 2012

TEXTO: RESISTÊNCIA E PONTE por Gustavo Fontes (Índio)


Resistência e ponte!
Esse será o título das manifestações de um angoleiro longe de suas terras. Na “resistência” da cultura e do cultivo da Capoeira Angola, buscando construir novas “pontes”. Afinal: “eu não sou daqui, marinheiro só, eu não tenho amor (...)
Pois bem turma. Então, eu, Gustavo Fontes (o Índio) estou a duas semana habitando a cidade de Curitiba. Limpa e muito organizada, não se vê quase nenhum lixo pelas ruas da capital, a não ser alguns mendigos; e pela noite, proliferam os usuários de crack!
Sim meus irmãos, os índices de crack e violência urbana por aqui, não deixam nada a dever a Recife e as maiores capitais. Por sinal, o crack já é considerado a maior epidemia nacional, em proporções comparáveis apenas a mortalidade causada pela Aids na Àfrica. Pois é. E isso tem muito a ver com a capoeira, infelizmente. Pois só no ano passado, perdemos alguns bons capoeiras para essa “doença social”.
Desde que cheguei aqui, venho visitando a Associação de Capoeira Angola Dobrada, onde conheci uma turma bem legal e mandingueira, que praticam o que se pode chamar de uma vertente mais ‘urbana’ da Capoeira Angola, com uma técnica apurada e bateria alinhada (sem muita variação). Bem, o grupo tem suas características próprias, ligadas a escola que começa com Pastinha, e hj é representada por João Grande e Moraes. Têm também seus próprios mestres fundadores, que são mestre Rogério e mestre Índio. O grupo atualmente, é liderado pelo contra-mestre Wellingto Negão  (ainda não o pude ver jogar, pois se recupera de uma lesão no joelho. Mas sempre presente, lidera o grupo com sua presença, nos toques e nos cantos, ‘caba’ bom e muito tranqüilo).
Logo na segunda semana aqui, coincidiu com a semana temática do dia da mulher. Então na roda aberta da quinta feira, foram as mulheres do grupo que comandar a roda. Uma experiência interessante, bastantes visitantes. Bem bacana.
No dia seguinte, a sexta, uma experiência muito enriquecedora. O grupo convidou a Yalorixá Yagunã, Dona Dalzira Maria Aparecida, para uma fala sobre as mulheres no mundo contemporâneo. Muito bacana a fala dela, que versou sobre os tempos difíceis vividos durante a Ditadura, e os conflito sofridos por um terreiro urbano, limitado em suas expressões, sofrendo preconceitos vários, mas que segue confiante e sabedor de sua importância. Como disse, uma experiência muito enriquecedora.
Pra finalizar, foi marcada uma roda de rua no domingo, no meio da feira munidipal de artesanato. Um lugar bonito e arborizado. Agora mesmo com muita grama e sombra, optaram fazer a roda na calçada e no sol. Uma participante com gripe se sentiu mal, e um outro cortou a mão durante a roda. Miudezas claro, perto do dendê e do axé que estiveram ali presentes. E inusitadamente, estava havendo aqui um batizado do grupo Abadá Capoeira, e de repente, estava lá o Mestre Camisa visitando e parabenizando a Roda de angola que estava acontecendo. Como teriam atividades em seguida, nenhum dos regionais que estavam de passagem entrou na roda.
Outras presenças ilustres, mencionadas durante as visitas que tenho feito, foram: Nino Faísca, considerado um marco na fundação da ‘moderna’ capoeira angola de Curitiba. E durante a última roda, foi mencionada a contra-mestra Di (Adrina, do Angola Mãe) como referência da mulher na capoeira!
Pois bem manos e manas angoleir@s, por hora é isso, conto mais novidades em seguida. Este foi o primeiro boletim ‘Resistência e ponte’: notas de uma angoleiro do Recife, em Curitiba. Abraços, muito axé, e até.

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