Resistência
e ponte!
Esse
será o título das manifestações de um angoleiro longe de suas terras. Na “resistência”
da cultura e do cultivo da Capoeira Angola, buscando construir novas “pontes”.
Afinal: “eu não sou daqui, marinheiro só, eu não tenho amor (...)
Pois
bem turma. Então, eu, Gustavo Fontes (o Índio) estou a duas semana habitando a
cidade de Curitiba. Limpa e muito organizada, não se vê quase nenhum lixo pelas
ruas da capital, a não ser alguns mendigos; e pela noite, proliferam os
usuários de crack!
Sim
meus irmãos, os índices de crack e violência urbana por aqui, não deixam nada a
dever a Recife e as maiores capitais. Por sinal, o crack já é considerado a
maior epidemia nacional, em proporções comparáveis apenas a mortalidade causada
pela Aids na Àfrica. Pois é. E isso tem muito a ver com a capoeira,
infelizmente. Pois só no ano passado, perdemos alguns bons capoeiras para essa
“doença social”.
Desde
que cheguei aqui, venho visitando a Associação de Capoeira Angola Dobrada, onde
conheci uma turma bem legal e mandingueira, que praticam o que se pode chamar
de uma vertente mais ‘urbana’ da Capoeira Angola, com uma técnica apurada e
bateria alinhada (sem muita variação). Bem, o grupo tem suas características
próprias, ligadas a escola que começa com Pastinha, e hj é representada por
João Grande e Moraes. Têm também seus próprios mestres fundadores, que são
mestre Rogério e mestre Índio. O grupo atualmente, é liderado pelo
contra-mestre Wellingto Negão (ainda não
o pude ver jogar, pois se recupera de uma lesão no joelho. Mas sempre presente,
lidera o grupo com sua presença, nos toques e nos cantos, ‘caba’ bom e muito
tranqüilo).
Logo na
segunda semana aqui, coincidiu com a semana temática do dia da mulher. Então na
roda aberta da quinta feira, foram as mulheres do grupo que comandar a roda.
Uma experiência interessante, bastantes visitantes. Bem bacana.
No dia
seguinte, a sexta, uma experiência muito enriquecedora. O grupo convidou a Yalorixá Yagunã, Dona Dalzira Maria Aparecida, para uma fala
sobre as mulheres no mundo contemporâneo. Muito bacana a fala dela, que versou
sobre os tempos difíceis vividos durante a Ditadura, e os conflito sofridos por
um terreiro urbano, limitado em suas expressões, sofrendo preconceitos vários,
mas que segue confiante e sabedor de sua importância. Como disse, uma
experiência muito enriquecedora.
Pra finalizar, foi marcada uma roda de rua no
domingo, no meio da feira munidipal de artesanato. Um lugar bonito e
arborizado. Agora mesmo com muita grama e sombra, optaram fazer a roda na
calçada e no sol. Uma participante com gripe se sentiu mal, e um outro cortou a
mão durante a roda. Miudezas claro, perto do dendê e do axé que estiveram ali
presentes. E inusitadamente, estava havendo aqui um batizado do grupo Abadá
Capoeira, e de repente, estava lá o Mestre Camisa visitando e parabenizando a
Roda de angola que estava acontecendo. Como teriam atividades em seguida,
nenhum dos regionais que estavam de passagem entrou na roda.
Outras presenças ilustres, mencionadas durante
as visitas que tenho feito, foram: Nino Faísca, considerado um marco na
fundação da ‘moderna’ capoeira angola de Curitiba. E durante a última roda, foi
mencionada a contra-mestra Di (Adrina, do Angola Mãe) como referência da mulher
na capoeira!
Pois bem manos e manas angoleir@s, por hora é
isso, conto mais novidades em
seguida. Este foi o primeiro boletim ‘Resistência e ponte’: notas
de uma angoleiro do Recife, em Curitiba. Abraços, muito axé, e até.
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