onde se oferece o exercício da reflexão
sobre o mundo contemporâneo.
é bem curto, mas creio que
não valha a pena ler...
apressadamente.
E como eu não tenho blog (ainda ou nunca?)
envio a vocês por aqui mesmo,
e conto com a compreensão, tempo vago, interesse, inquietação; gosto quem sabe?...
Bem, qualquer que seja o motivo que os leve a ler o texto de um amigo,
será correspondido com os pensamentos profundamente envolvidos
com as questões relacionadas a este 'aparente' caos contemporâneo.
o título é: E os valores? onde estão?
quem tiver blog, pode postar a vontade, imprimir, xerocar, agora tá na rede,
e é de quem pegar...
abraços, felicidades nesse fim de ano,
muito grato pela atenção,
e até breve.
Gustavo Fontes (mais conhecido como Índio)
Valores
Este
texto vai para os antigos e hexagonais (quadrados nunca! caretas jamais!)
Para os
que ainda são capazes de perceber todo o prazer que uma carta pode oferecer.
Que sabem silenciosamente que uma carta (ou um bilhete escrito às pressas,
colado na porta da geladeira), possui em sua idiossincrática concretude e
gramatura, algo que nenhum i-meio pode conter (seja lá quantos ‘giga’ possam
caber na mensagem).
Me
refiro a um evento típico do mundo contemporâneo, de fulano se vangloriar por
ter toda a discografia de sicrano, ou as obras completas de beltrano, sem ter
fruído verdadeiramente nenhum álbum ou livro. Sim, por que o álbum ou o livro,
estes sim, são uma obra completa; desde seu momento de criação e produção, até
o produto final. É neste formato em que uma obra é inscrita no tempo
(histórico\político) do artista, e sua relação (sociológico\afetiva) com o
espaço. Mas a névoa que paira sobre o mundo da informação instantânea, não
permite ver que tudo está despedaçado.
Meus
queridos hermanos, é preciso lembrar
que o ‘ser humano’, seja lá o que for, em qualquer plano que se supor, não
deixa de ser um animal bípede: arredio e irritadiço; ou dócil e traiçoeiro; eu
particularmente prefiro os primeiros...mas isto não vem ao caso.
Uma
coisa ainda vos digo: ai daquele que tem repugnância de se reconhecer também
como bicho, como animal! Pois isso mais que frescura, é fraqueza!
Mas
afinal, a verdadeira questão, é que este ego atual (ocidental), hoje
globalizado, fundamentado na liberdade individual para o consumo de Cristo, ou, quer dizer, para o consumo cristão; ou, melhor ainda, para o consumo de tudo – e depois que venha o Apocalipse, ou a Redenção!
Que dá no mesmo pra quem tá na beira do precipício...
O fato é que o arquétipo do ego atual, global
e ocidental, se encontra constantemente insatisfeito. E por isso se apossa
arrebatadora e inescrupulosamente de qualquer novo prazer que se apresente em
seu horizonte. Que lhe proporcione ao menos um tímido vislumbre do que seja a
saciedade.
Para
ilustrar, um poema de Nietzsche:
“Durante
a Chuva.
Chove e
penso nas pobres pessoas que sobraçam neste momento seus problemas numerosos e
que são destituídas do hábito de ocultá-los, cada um pronto e disposto a fazer
mal ao outro e a se criar, mesmo durante o mau tempo, uma miserável maneira de
bem estar. Esta e tão somente esta é a pobreza dos pobres.”
E é o
fato desta busca desesperada por ao menos um ‘tímido vislumbre do que seja
saciedade’, que faz com que a combinação química chamada crack (ou óxi), seja
capaz, hoje em dia, de viciar desde a primeira experiência. É apenas a busca
desesperada por uma, mesmo que miserável, maneira de bem estar!
Oh
miséria humana que a tudo ânsia! Pois terrível é o flagelo do consumo
insaciável, insustentável... insuportável enfim!
E assim
seguimos nos embrutecendo!
A
questão é que esta eterna competição tem nos custado muito caro, batendo
cabeça. Ê vida de Gado!! Tangidos por um sistema que a todos deixa inseguros. E
se a alguns promete futuros... a muitos outros, não.
Sim,
porque vai ser uma fatalidade se um dia você for surpreendido na frente do seu
prédio, e levar bala. Uma fatalidade que o larápio estivesse desesperado,
talvez drogado, nóiado; uma fatalidade que tenha tido uma infância na penúria,
enquanto seu condomínio custe cerca de R$ 1.000,00 reais por mês. Ou que ele e
sua família não tenham onde morar, nem o que comer direito, enquanto a cachorra
da sua mulher, entre ração, tosa e depilação, gaste cerca de R$ 600,00 reais
por mês. Uma fatalidade que o plano de segurança da sua cidade, ou Estado, não
preveja a ocupação dos jovens de periferia: nem seu recreamento, nem sua
profissionalização; e os deixem lançados ao consumo ‘impossível’, imposto pelos
meios de comunicação.
E com
isso o sistema administra a todos na beira do precipício.
Os
valores, meu Deus, os valores... onde estão?
E
constroem-se assim uma série de posturas e imposturas que, enquanto práticas
cotidianas, subtraem o autêntico Ser (espontâneo), em prol de um parecer
socialmente idealizado, que é insustentável interiormente: inquieto,
amargurado, preso na moral do ressentido, submerso na dinâmica do pecado, da
hipocrisia, e da expiação.
E
apesar deste flagelo do consumo insaciável ter assolado o mundo, pode-se
perceber seus limites... e a partir deles, as possibilidades de libertação.
Pois foi apenas há alguns séculos (não mais do que cinco, ou seis), que o motor
da história tem sido a cobiça, e o saciar de vícios.
Pois
foi ou não foi a busca dos temperos asiáticos e indianos que trouxeram os europeus
para a África e América? E então, fiat moternitas! (fez-se
a modernidade!). Desde então, as taxas globais de açúcar, café, tabaco e
álcool; nunca mais foram as mesmas (todas refogadas no mais lucrativo tempero
da história: o sangue índio e negro, e de todos os colonizados e degredados
pelo sistema ‘moderno’).
Buscamos
o novo homem, que reintegre a completude que os antigos tinham com o seu meio,
sem negar os adventos do mp3 e da bicicleta (sim, a bicicleta: uma das melhores
máquinas já inventada pelo homem!); dos tablets
que podem conter bibliotecas. Mas
primeiro, temos que garantir que todos dominem bem, a técnica mais elementar e
emancipadora já criada pela humanidade: ler e escrever.
Os
valores meu Deus, mais uma vez os valores, estão todos invertidos!
Por
último e para deixar claro, só o que nos interessa quanto aos valores antigos é
que os textos sejam lidos; que as músicas sejam escutadas; e que o homem sinta
gratidão e respeito pelo meio.
Pois
nosso horizonte é revolucionário, e a meta é que sejamos todos iguais em liberdade e saúde, em possibilidades para o diálogo.
Pois ser humano é bicho, e o espírito está no estômago.
Salve
Sidharta Gautama (o Buda)! Salve
Nietzsche! Salve Josué de Castro!
Três vezes salve!
Texto: Gustavo Fontes
e-mail: fontesholanda@gmail.com
É um belo texto, um grito de liberdade =)
ResponderExcluirMas eae, como é que se dá a inversão e a transvaloração dos valores?
Seria realmente muito ousado responder Gabriel, mas me atrevo; só existe um caminho mano meu: se amar, praticar o bem, e amar mais alguns também! hehe.
ResponderExcluirDiria ainda que é fundamental construir uma família, sólida e verdadeira, assim com a nossa! Yê! Maior é Deus!